terça-feira, 14 de janeiro de 2014

História: As três fiandeiras - Irmãos Grimm







AS TRÊS FIANDEIRAS
Era uma vez uma rapariga preguiçosa que não queria fiar, e a mãe, por mais que insistisse, não conseguia convencê-la. Por fim, a mãe perdeu a paciência, zangou-se e bateu-lhe até a rapariga ter começado a chorar muito alto. Aconteceu que, mesmo nessa altura, ia a rainha a passar em frente à casa e, quando ouviu chorar assim tão alto, mandou que parassem a carruagem, entrou e perguntou à mãe porque batia na filha a ponto de se lhe ouvirem os gritos. Então a mulher, com vergonha de revelar a preguiça da filha, disse:
- Eu não consigo que ela pare de fiar, só quer fiar e mais fiar, e eu sou pobre e não posso arranjar linho.
            A rainha respondeu:
            - Dai-me a vossa filha, que ela venha ao castelo, tenho linho bastante, ela poderá fiar o que quiser.
            A mãe deixou-a ir da melhor vontade e a rainha levou a rapariga.
            - Agora fia-me este linho – disse-lhe – e, se conseguires, terás por marido o meu filho mais velho. Não me importa que sejas assim pobre, a tua vontade de trabalhar é dote suficiente.
            A rapariga ficou aflita, pois mesmo que fiasse de manhã à noite durante três séculos não conseguiria. No seu desespero chegou-se à janela, apercebendo-se então que três mulheres se aproximavam: a primeira tinha um pé espalmado e muito largo, a segunda um lábio tão grande que lhe caía em cima do queixo, a terceira um polegar achatado. Pararam debaixo da janela, olharam para cima e perguntaram à rapariga o que é que ela tinha. A rapariga queixou-se da sua má sorte. Elas ofereceram-lhe ajuda e disseram:
            - Se nos quiserem convidar para a tua boda, se não te envergonhares de nós, se disseres que somos tuas primas e nos sentares à tua mesa, então fiamos-te o linho, e em pouco tempo.
            - Com o maior prazer – respondeu a rapariga. – Entrem e comecem o trabalho.
            A rapariga escondia da rainha as três fiandeiras, de todas as vezes que ela vinha só lhe mostrava a porção de linho fiado e os elogios da rainha não tinham fim. Não levou muito tempo que tudo estivesse acabado. Então as três mulheres despediram-se e disseram à rapariga:
            - Não te esqueças daquilo que nos prometeste: aí estará a tua felicidade.
            Quando a rapariga mostrou à rainha a montanha de fio, combinou-se o casamento; o noivo, satisfeito por ter arranjado mulher tão diligente e prendada, não se cansava de elogiá-la.

- Tenho três primas – disse a rapariga – e, como elas me fizeram muito bem, não queria esquecê-las na minha felicidade. Permiti que as convide para a boda e que venham sentar-se à nossa mesa.
            A rainha e o noivo disseram: “Por que razão não havíamos de permitir?”
            Quando a festa começou, entraram as três mulheres, vestidas de maneira singular, e a noiva falou-lhes assim: “Sede bem-vindas, queridas primas!”
            - Ai – disse o noivo - , onde arranjaste estas parentas tão horrorosas? E em seguida foi ter com a mulher que tinha o pé espalmado e perguntou-lhe: - Porque tendes um pé tão espalmado e largo?
            - É de calcar o pedal – respondeu ela – é de calcar o pedal.
            Foi ter com a segunda e perguntou: “Porque tendes o lábio tão caído?”
            - É de lamber o linho – respondeu ela – é de lamber o linho.
            Então perguntou à terceira: “Porque tendes vós o polegar tão achatado?”
            - É de torcer o fio – respondeu ela – é de torcer o fio.
            Com isto se assustou o príncipe e disse: “Nunca mais a minha noiva tão linda tocará numa roca.”
            E foi assim que ela se livrou de fiar.


IRMÃOS GRIMM, Branca de Neve e Outros Contos, Guimarães










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